Algumas manhãs de Domingo da minha infância
eram passadas no Estádio José de Alvalade,
foram tempos de descoberta, hoje, de saudade.
Íamos os três, eu, a minha mãe e o meu pai,
e na contramão dos costumes estabelecidos
era ela que liderava o grupo, pois por futebol,
o meu pai não era lá muito maluco.
E lá ia eu vestido a rigor; ténis e umas
meias enormes, verdes e brancas, ás riscas,
e esticadas por cima das calças de ganga
( o que eu gostava de usar assim as meias...),
provavelmente uma camisola à maneira, um boné
com o escudo do Sporting, e claro, uma bandeira.
Se primeiro uma bandeira pequena, foi uma questão
de tempo até encontrar uma bem maior, pelo menos
duas vezes a minha altura, sentia-me um protagonista,
não apenas parte da moldura.
Era o tempo das grandes bandeiras, das tochas
com fumos coloridos, da feliz improvisação.
E depois de vermos os escalões juvenis durante a manhã
continuávamos assistido aos seniores tarde dentro,
e em noventa minutos o tempo parecia oscilar
como um pedaço de cristal por um momento.
E o meu pai envergonhado com os gritos da minha mãe.
Por fim íamos embora no meio da turba, e eu no
automóvel com a bandeira de fora até casa, até à
próxima, ora triste ora sorrindo, até ao próximo
Domingo.