O rapto

Agora que sei onde moras terei que te raptar?
E como um cavaleiro árabe a cavalo levar-te-ia para um oásis onde comeríamos tâmaras e tu dir-me-ias que me amas e de corpos nus debaixo do sol seriamos chamas. Seriamos um sol. Somos um só, um em dois, somos dois em um. Eu sou aquele por quem tu sempre esperaste, no escuro do teu quarto, no fundo da tua alma. Era aquele que espreitava lá atrás quando te vias ao espelho e que pensavas ser um reflexo, era eu colado aos teus lábios quando te pintavas, era o meu sabor que pincelavas. Era eu o vermelho do teu sangue menstrual. E agora tens-me aqui, só para ti, corpo e alma, fúria e calma, e tudo me interessa, e a única coisa que não me interessa é o medo, o medo da vida, o medo em ti. Não tenho medo de nada, só tenho medo do medo, do gelo que ainda te envolve no fundo de algumas noites. Deita-te comigo e eu derreto o medo. Sou velho de vidas, muitas se passaram até aqui. Sou Vénus para ti. Sou a estranha elegância sou a elegância estranha sou o sol que explode no escuro e ilumina o futuro.