Pension Dalí

Mil cobras de vidro no céu da cidade
os seios belos e brancos erectos jorrando leite
não tocar na vaca sagrada seus cornos antenados
o som de passos no corredor sem portas
sussurros como borboletas arrepiando peles
tambores tagarelas em auto-combustão solidária
os incas foram expulsos do quarto por rir alto
as mulheres de Veneza verteram águas na marquesa
na varandas pombos albinos traficam milho
olhos kamikazes detectam o rabo da empregada
toda a fé é abstracta e na Sagrada Família o Sol brilha
os cabelos crescem enquanto recitam parábolas
erecções reptilianas de sangue quente
calaram o canário sob a ameaça de uma máscara
o papel de parede é decorador e fala estrangeiro
a sodomia só é permitida antes do meio-dia
fura-greves escondem-se nos cinzeiros metalizados
o desejo não basta e então regou-se a flor
o homem de chapéu cinzento observa-se na cama
dentes amarelos tremem de frio e impérios caem
gritos obesos brigam com altifalantes anarquistas
o sal mediterrânico na pele deve ser lambido fresco
a cigana descalça envia bilhetes de amor
a tarde despediu-se deixando o azul à porta
o papagaio já não confia no velho pirata
salivam-me em catalão na orelha
acordei ou adormeci?
está rabiscado aqui ao lado no lavabo
"Dalí mijou aqui".